terça-feira, 4 de setembro de 2012

A harmonia de Deus

Tudo no Universo é um reflexo de algo que lhe está acima e, por sua
vez, inspira aquilo que lhe está abaixo. Corretíssima é, pois, a
afirmação do grande Hermes que na sua sábia afirmação "o que está em
baixo é igual ao que está em cima" condensou inteligente e intuitivo
retrato das relações universais.
Trazer conhecimento desta monta para a vida de todos os dias é tarefa
das mais fascinantes, conquanto das mais arrojadas, especialmente na
sociedade de hoje, em que persistimos na pressa e na superficialidade,
quando deveríamos ater-nos mais à reflexão do que ao estouvamento com
que, não raro, coroamos os momentos mais decisivos das nossas vidas.
Mas, voltemos ao nosso Trimegistus, antes que se nos azede o
pensamento com divagações verdadeiras, porém, tristes. Ora, se há uma
correspondência, embora a níveis que falta definir, entre o
infinitamente grande e o infinitamente pequeno; uma vez que as leis
que regem o átomo são as mesmas que envolvem o astro; já que o sol que
ilumina o homem é o mesmo que aquece o verme... então, algo de comum
lhes há-de estar inerente, e isso que lhes está inerente há-de admitir
influências recíprocas a níveis que o nosso conhecimento ainda não
detectou mas já suspeita.
À luz desta interpretação do funcionamento das Leis Divinas, não será
difícil entender que quando se cria o caos ou a disciplina, estes
tendem a propagar-se em ondas que reproduzem a sua própria origem, tal
como o grito entre as montanhas exala de si o som que produz o eco que
o perpetua. Convém então perceber que, nós mesmos, apesar da nossa
aparente exiguidade no meio de tantos factores que influenciam o
cosmos, estamos constantemente a influenciar e a ser influenciados, no
cenário em que nos movimentamos.
Damos os gritos e ouvimos os ecos dos gritos dos outros, num
entrecruzar permanente de tendências, modos de ser, formas de pensar,
maneiras de falar e de sentir... Esquecendo, todavia, que, no mais das
vezes, todo este comércio permanente de ajustes que nos impomos uns
aos outros, quase sem nos darmos conta disso, nem sempre se processa à
superfície da vida; é, ao contrário, nas linhas subtis do
subconsciente, que se inscrevem a maioria dos sinais que nos gerem a
existência.
Divinamente sábio, Aquele que nos criou, conhecendo _ por Ele Mesmo a
ter criado _ a lei da mutabilidade, outorgou-nos, como testemunho da
sua inteligência misericordiosa, a oportunidade de, através da nossa
própria capacidade de influenciar e construir para o bem, a
possibilidade de irmos aperfeiçoando tudo aquilo em que possamos
tocar; quer com as mãos, quer com o pensamento, ou com a palavra, ou
pelos incontáveis métodos de propagação do nosso ser através das
dimensões em que nos movemos sem saber.
Assim, quando nos for dado, em qualquer circunstância, substituir a
escuridão pela luz, o ódio pelo amor, a tristeza pela alegria, a
revolta pela fé, a sujidade pela limpeza, a indisciplina pela
organização, o desentendimento pela concórdia, o atraso pelo
progresso, a ociosidade pelo trabalho... enfim, quando nos for
permitido _ mesmo à custa do sofrimento _ executar um pouco da tarefa
que compete a Deus, mas que Ele se permite partilhar connosco para
nosso engrandecimento; quando isso nos for oferecido... façamo-lo com
dignidade, com entrega, com emoção, porque estaremos colocando a nossa
pedra no edifício universal que, afinal de contas, também habitamos.

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