Obrigue os outros a dizer a verdade
No anseio de fazer vingar as nossas determinações; no propósito do total cumprimento dos nossos desígnios; no afã de levar até ao fim as jornadas a que nos dedicamos; esquecemos, muitas vezes, de tomar em conta as determinações, os desígnios e as jornadas alheias. Isso faz com que, distraídos, encaremos a vida como se fôssemos nós o seu centro.
O pior é que, a partir de certa habituação a tal modo de ser, deixamos mesmo de nos dar conta de tal procedimento, passando a relegar os demais para segundo plano, tão naturalmente quanto respiramos. Ora, nada mais prejudicial ao nosso próprio equilíbrio, bem como ao equilíbrio das nossas relações com quem nos rodeia.
Percebendo o quanto os menosprezamos, passam estes a hostilizar-nos de maneira clara _ se forem de espírito ainda irreflectido e pouco paciente _ ou, pelo menos, começam a procurar, de modo mais ou menos disfarçado, manter uma certa distância em relação ao nosso convívio, preservando-se do insulto que, mesmo que seja sem querer, acabamos por lhes infligir.
Casos assim acontecem, não apenas nas rodas de amigos que se encontram para divertimentos de fim de semana; mas, igualmente entre colegas de trabalho ou membros de uma mesma família. É exactamente nestes dois últimos cenários que este tipo de situação assume contornos de maior importância. É que, quando as barreiras à confiança ou ao entendimento se erguem entre amigos de ocasião, cuja interacção pode ser interrompida ou desfeita sem maiores prejuízos, não costuma haver dano grave a lamentar; todavia, quando tal perturbação ocorre a tornar distantes, ou até desavindas, pessoas que precisam de conviver em regime diário... bom... poderemos, então, ver-nos diante de problema bem mais difícil de resolver.
É que, diante da nossa eventual forma menos cortês _ já para não dizer, egoística, de tratar quantos nos rodeiam _ não restam, frequentemente, a estes, valerem-se de instrumentos de auto-preservação que, fossem outras as circunstâncias criadas pela nossa atitude em torno deles, se absteriam de utilizar. Entre esses instrumentos está a necessidade de evitarem mencionar certas particularidades de determinadas ocorrências, para não se verem compelidos a nos suportarem o mau humor; a contingência de se acharem na posição de nos narrarem alguns factos de maneira menos clara, para nos não excitarem a mal controlada sensibilidade; ou mesmo o impositivo de chegarem a mentir-nos, para se eximirem das nossas repreensões, verbais ou até físicas _ se nos acharmos em posição de as infligir _ para defenderem assim a sua integridade pessoal.
Se desejamos dos nossos amigos, colegas ou familiares um comportamento leal e franco, é absolutamente necessário sermos capazes de lhes dar a liberdade de que se sintam à vontade para mostrar o que pensam e o que são. Naturalmente que, se nos cabe orientá-los de algum modo, não nos podemos furtar a fazê-lo. Entretanto, não esqueçamos que, quer no lugar de companheiro mais experiente, quer como elemento de superior hierarquia ou ainda na posição de chefe de família, nos cabe, antes de tudo, a instrução pelo exemplo.
Ninguém resistirá por muito tempo à perseverança de uma forma correcta de agir. A palavra tem, igualmente, o seu papel a desempenhar no campo das possibilidades de que dispomos para auxiliar os outros a enveredarem por melhores caminhos; porém, a conduta nobre será sempre a melhor maneira de espalhar os melhores exemplos à nossa volta, diminuindo muito a possibilidade de eclodirem a dissimulação ou a mentira.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
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